Não há limite para o cuidar

Não há limite para o cuidar
Por Karen Dolorez

Em março, conversamos com nosso querido amigo Lucas Guimarães sobre a como emoção na área da saúde. Transcrevemos aqui neste texto um pequeno trecho deste vídeo que vale cada minuto do seu tempo.

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Quem é Lucas Guimarães?

Lucas é médico geriatra, coordenador do cuidar do HCOR, professor do CEB e um dos maiores corações que a gente conhece.

Do salvar para o cuidar, por Lucas Guimarães

A técnica tem limite! É muito claro isso. Toda técnica que a gente tem como médico, toda teoria, tudo que a gente estuda, tudo que a gente consegue fazer para curar a doença, tem limite. Alguma hora esse limite vai chegar. Talvez você seja bem-sucedido muitas vezes e isso, inclusive, é uma coisa que determina um bom médico. Não adianta o médico ser uma pessoa boa e não ter a técnica para exercer a medicina. Mas, por melhor que você seja, você vai falhar. Na hora de curar as doenças isso é inevitável. (…)

O limite técnico, então, é inevitável. O limite para o cuidado, não! Gosto muito de uma fala que ouvi da Ana Cláudia Quintana Arantes — que é uma pessoa maravilhosa, sou fã do trabalho dela. A Ana comentou que foi diagnosticada com “empatia patológica”, ela se importava demais com as pessoas. E eu pensei, “meu deus, como assim?”.

A empatia pode mesmo ser danosa se paramos no ponto de só sentir o sofrimento do outro. Tem uma comparação clássica da piedade, quando você diz “tadinho, ele está ali embaixo sofrendo, serei caridoso e vou ajudar” e da empatia, que é sentir junto a dor do outro. A compaixão vai além disso. A empatia é o embrião da compaixão, porque você tem que sentir a dor do outro para se comover. Mas a compaixão tem ainda esse ímpeto de ajudar as pessoas.

Padre Julio Lancellotti não é da área da saúde, mas é com certeza um dos maiores exemplos de cuidado neste Brasil de 2022

A vontade de ajudar as pessoas não tem limite. Sua capacidade de se entregar e seu desejo de ajudar nunca vai ter limite. E essa fadiga empática não acontece na compaixão. Se não tem limite para o quanto você pode deseja aliviar o sofrimento das pessoas, não tem limite para o quanto você pode cuidar. Isso é maravilhoso!

Me lembro de momentos em que precisava comunicar uma má notícia para uma família e me lembro de desabar aos prantos com eles e falar: “olha, não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas posso garantir que a equipe vai estar aqui e que vamos ajudar vocês em tudo que estiver ao nosso alcance”. Aí você dá uma notícia difícil, que de certa forma acaba com a vida que pessoa conhece — ela nunca mais vai ter a mesma vida quando descobre que o pai morreu ou que alguém da família tem câncer… E depois de ouvir a notícia, ela agradece. “Mas obrigado, por quê?”, pergunto. Porque você se importa! Porque a gente viu que você está do nosso lado e que vai continuar do nosso lado.

No momento em que consegui começar a fazer essa mudança de perspectiva de só entregar uma má notícia para me disponibilizar a estar ao lado do paciente, entendi que isso faz uma diferença brutal na vida das pessoas. E o cuidado paliativo é maravilhoso nesse ponto porque você pode fazer coisas muito simples, como oferecer um picolé de limão para pacientes que estão com náusea. A técnica tem um pouco a ver com isso: você precisa saber que o azedo, o gelado e o limão aliviam o enjoo. Mas não é preciso técnica para atravessar a rua, comprar uma caixa de picolé de limão e deixar disponível. Nós fazíamos isso no hospital, ninguém sabia quem comprava, simplesmente sempre tinha picolé de limão.

Assista a este trecho aqui! <3

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