A raiva é uma febre alta

A raiva é uma febre alta
Tim Tadder

Esses dias um casal foi filmado numa cena horrorosa dentro de um aeroporto, não sei se você viu.

Depois de horas de atraso no voo por conta do mau tempo, e depois de muita desorganização da companhia aérea, eles deixaram suas raivas falarem mais alto em uma atitude indefensável. A mulher gritava exigindo a resolução de seus problemas — uma cena relativamente comum, que todos nós já presenciamos alguma vez na vida.

“Perceber a faísca antes da chama” é como Paul Ekman explica o que poderíamos fazer nesse momento. O fato de ela se alterar tanto deveria ter soado em sua mente como um grande: “Opa!”. É hora de prestar atenção, tomar cuidado, permanecer alerta: a emoção é quem está gritando.

Mas não foi isso que aconteceu. Depois do clamor, a mulher passou a bater no acrílico de proteção do balcão de check-in do aeroporto. Seu marido pegou um objeto do saguão e o arremessou, quebrando o guichê, ameaçando funcionários e colocando passageiros em risco.

Uma cena de horror mesmo, que eu não divulgaria por aqui, se não fosse o fato de que eles foram a um programa de televisão no dia seguinte. Conforme esperado, tentaram se explicar, e mostraram que estavam arrependidos.

“Tive que chegar no meu limite… Não justifica, eu não queria ter feito isso, eu queria ter resolvido tudo numa boa.”

Kênia Lopes

Uma atitude dessas não tem justificativa — e eles estão respondendo por seus atos. Mas não sou tola de achar que sou superior a eles. Me vejo sempre por um triz na hora da raiva. Minha emoção diz que eu devia gritar mesmo! Que aquilo é um absurdo e que, já que estou com tanta energia, não custa nada sair gritando, dizendo ao mundo como estou me sentindo e exigindo que liberem meu caminho. É essa a receita garantida para uma besteira e para um dia seguinte de arrependimento.

Por Giulia Rosa, traduzido livremente em nosso Instagram

Matthieu Ricard costuma dizer que expressar desenfreadamente nossas emoções dolorosas é quase que um treino. Quando costumeiramente nos deixamos levar pela fúria (ou pelo ciúme ou pelo ódio) desenvolvemos hábitos que facilmente nos dominam. Na próxima cena de raiva, acaba sendo mais fácil voltar de novo para o comportamento explosivo.

“I’ve been there”, diz a expressão em inglês que usamos quando queremos a dizer a alguém “eu sei como é isso”, “já estive nesse lugar”. Sinto raiva, meu corpo conhece o caminho e apenas vai. É assim quando revisitamos uma cidade que já conhecemos, por que não seria quando a emoção nos toma?

Os participantes do programa de televisão no qual o casal apareceu conversaram sobre empatia, afinal, eles estavam com um bebê de 5 meses, dá para compreender o desespero. Depois, citaram situações difíceis que nos fazem perder a razão. Por fim, chegaram a um ponto que sem dúvidas é um caminho além da conversa mole: lembrar de respirar na hora da emoção.

A experiência da raiva é como uma febre alta. É uma condição temporária, e você não precisa se identificar com ela. Quanto mais você olhar para a raiva desta maneira, mais ela se evaporará diante dos seus olhos, como gelo sob os raios do sol.”

Matthieu Ricard

Não acreditar no que a voz da raiva vem nos dizer é um excelente lembrete. Focar na respiração. Voltar de novo e de novo, deixando os pensamentos ágeis, obsessivos e enérgicos da raiva se dissiparem para que tenhamos uma ação mais sensata depois que a febre baixar. O prejuízo do casal, de 5 mil reais pela quebra do guichê do aeroporto, nem foi tanto perto do arrependimento que, sem dúvidas, é muito mais custoso.

equilíbrio emocional na sua empresa

Tem interesse em levar um curso sobre equilíbrio emocional para sua empresa ou escola? Nosso curso propõe um passo a passo que pode nos ajudar a cultivar um bem-estar emocional no ambiente de trabalho e além dele.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionado:

A mente do ciúme

A mente do ciúme