Suprimir o que sinto é uma boa opção?

Suprimir o que sinto é uma boa opção?

Eu estou apaixonada por essa série. The Crown conta a história que aconteceu e acontece por dentro do Palácio de Buckingham. Seria mais uma série histórica se não fosse também uma obra baseada em mais do que fatos reais. Fofocas reais. Rumores verídicos. Pessoas que ainda vivem no poder de um país.

Pela primeira vez entendemos um pouco do que é ser um membro da realeza. Se as delícias dessa vida nos são escancaradas periodicamente em festas, salários e requintes inimagináveis, as dores são vistas bem de perto pela primeira vez e com lente de aumento. Tem muito luxo, sim, e tem também um vazio infinito e uma supressão grandiosa das emoções.

É aqui que entra nossa conversa. Porque estou adorando as fofocas além dos tablóides (não nego!), mas nada como a arte para nos escancarar a própria vida!

Claire Foy, essa atriz maravilhosa que vive Elizabeth II, mostra o que é ser uma mulher tentando fazer caber o tempo todo a roupagem de rainha: forte, leal, obediente e altiva. Que peso essa coroa!

Bastam poucos capítulos para nos depararmos da poltrona com o básico da experiência humana: nosso sistema emocional é hidráulico, como diz James Gross, e as emoções não são assim tão facilmente escondidas. Eventualmente nos tornamos bons em fazer cara de paisagem, em trocar sangue por água e em fazer a egípcia, mas… Já tentou dar um jeitinho no encanamento encrencado?

Uma vez estourou um cano aqui de casa. Passaram uma massa Durepoxi por cima. Era o encanamento do esgoto. Tique-taque, tique-taque… Todos os dias eu olhava para aquilo tique-taque achando que não estava certo. Era questão de tempo para a água vencer, é papel dela!

Suprimir o que sentimos muitas vezes será o jeito que encontraremos para lidar com uma emoção dolorosa em uma situação delicada. Mas isso não significa que esse é um bom recurso. Se o sistema emocional é um sistema hidráulico, basta comparar: experimente colocar pressão de um lado da tubulação e não dar vazão para o fluxo da água. Aquilo estoura, arrebenta, explode e pode fazer um belo estrago até mesmo na estrutura! Coincidentemente é isso que as mais recentes pesquisas científicas têm descoberto sobre o que sentimos.

Imagem de Michael Wolf

Me vejo em cada respiração tensa da rainha. É questão de tempo! Tique-taque. Olho para todos os meus canos remendados. Todo mundo já precisou engolir sapo e certamente teremos alguns ainda pela frente.

Que maravilhosa a lupa que a arte traz para esse assunto! A pergunta fica muito nítida: será que só tem esse jeito? Durepoxi é bom mesmo? Será que não dá para agir de outra maneira com o que sentimos?

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