Em setembro de 2020, Nathália conversou com Eduardo Amuri para tentar responder a uma pergunta importante: nossa relação com o dinheiro é emocional?
Amuri, além de ser uma das melhores pessoas que conhecemos, é consultor financeiro, autor dos livros Dinheiro sem medo, Finanças para autônomos e um dos coordenadores da comunidade online olugar.org.
Nossas emoções influenciam nossa vida financeira?, por Eduardo Amuri
Mais do que influenciam, elas direcionam, atropelam, arrastam. Nosso trato com o dinheiro é emocional e recebe, eventualmente, lampejos de racionalidade. É uma relação muito menos numérica e quadrada do que costumamos acreditar que é. É sutil, profunda e se conecta com todo o resto –as emoções direcionam a esfera financeira da nossa vida, e essa esfera financeira, por sua vez, exerce uma influência gigante em todas as outras esferas: nossos relacionamentos, a maneira com que administramos nosso tempo, nossa vida profissional, nossos planos, as concessões que precisamos fazer, as nossas apostas de felicidade, de futuro.
Quando penso no meu trabalho, enxergo isso como uma vantagem: é como se eu não precisasse convencer ninguém a olhar esse assunto, isso já é evidente.
Esse tema recebe abordagens muito pobres, duras, que não levam em consideração nosso comportamento, nossas sutilezas. Essas abordagens mais rasas caem por terra muito rápido.
Tenho certeza que a maior parte das pessoas que estão aqui, se não todas, já tentaram fazer um planejamento financeiro, e provavelmente tentaram do jeito mais tradicional: fazer uma planilha bonitinha que não se relaciona, em absoluto, com a maneira com que naturalmente raciocinamos. E aí, obviamente, elas desistiram, porque outras coisas entraram na frente.
Quando essa abordagem mais dura começou a cair por terra, outras mais flexíveis começaram a participar desse quebra-cabeça. É a interface entre a economia e a psicologia, a economia e nossas emoções, nosso comportamento. Os próprios economistas começaram a abraçar outras temáticas, linhas de pesquisa multidisciplinares surgiram. A conclusão foi claríssima:
dinheiro é causa de ansiedade, dinheiro é causa de depressão, dinheiro é causa de término de relacionamento, ruptura de amizade.
Na minha opinião, a gente está começando a ciscar na superfície desse grande tema. Tento oferecer algo que não descarta todas essas questões emocionais quando falamos sobre dinheiro. Esse é meu papel. Acordo e vou dormir pensando nisso. Acabado bebendo muito mais na academia, na psicologia econômica e economia comportamental do que nas práticas contemplativas que vocês tanto incentivam, mas muitas vezes percebo que esses caminhos chegam em lugares parecidos e acho isso muito bonito.
Explicando um pouquinho, lembro de você e da Isabella falando sobre “período refratário“, que é o momento que teoricamente você não deveria fazer grandes coisas, em que seu julgamento está claramente deturpado. E aí estava conversando ontem com a professora Vera Rita de Mello Ferreira, que é a principal referência desse assunto no Brasil. Ela citou o Daniel Kahneman, principal pesquisador dessa área no mundo, o pai dessa brincadeira toda. Ele fala que o maior recurso que ele usa para tomar boas decisões econômicas é “delay”, ou seja, postergar a tomada de decisão para ter a chance de estar em um momento emocional mais tranquilo. É como se essa postergação nos desse a oportunidade ponderar acerca de mais variáveis, mais cenários, mais argumentos.
E é muito engraçado que os jornalistas falam: “mas dá pra sair disso aí, não dá? Dá para não ser impactado por todos esses vieses e deformações de percepções que você tanto estuda…”, e ele fala algo como: “olha, estou olhando para esse problema há cinquenta anos, ainda não vi como dá para sair. Mas sei que dá para postergar e tomar decisões melhores.” Simplesmente isso. O conselho dele é só esse: “delay, delay, delay your decision” (atrase, atrase, atrase sua decisão).
Para saber mais sobre o trabalho do Amuri →
o curso das emoções
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