No final de maio deste ano de 2020, durante o Simpósio Varela, ouvi Richard Davidson citar algumas lições que podemos levar dessa pandemia que nos assolou. É ele o cientista que tem batido na tecla de que o bem-estar é uma habilidade que pode ser desenvolvida, treinada, aprimorada… Uma das falas mais essenciais dos últimos tempos — se aprendermos isso, meio caminho andado!
Longe de querer romantizar dizendo aquelas frases clichês “estamos no mesmo barco” ou “vamos sair melhores seres humanos dessa”, achei a visão de Richard Davidson muito importante e vou tentar reproduzir com minhas palavras suas lições realistas da pandemia.
1. Somos interdependentes
A primeira grande lição que tiramos é que sim: somos mesmo completamente interligados. Se lá em janeiro alguém te dissesse que o vírus que começava a se espalhar na China chegaria ao Brasil e causaria um imenso estrago, talvez você pensasse ser exagero, não é?
Lembro de quando li esse tweet do Átila Iamarino no começo de março e, mesmo conhecendo seu histórico respeitável como cientista, não acreditei tanto assim:
E isso foi menos de duas semanas antes do Brasil parar! Estávamos cegos para uma realidade que já cruzava a esquina. Fomos ingênuos e o coronavírus esfregou em nossas caras como estamos muito mais conectados do que imaginamos. Não há fronteiras para este vírus (e não há também para nossa interdependência).
2. A bondade está em todo lugar
Não foi fácil estar no Brasil em 2020 durante a pandemia, e o próximo ano também não parece animador. No entanto, uma coisa que pudemos notar é que, apesar do crescente desemprego e do total desgoverno das autoridades, a bondade foi visível ao nosso redor.
Vi tantas pessoas doando o que conseguiram de tempo e dinheiro: uma amiga organizou cestas básicas para famílias que sofriam com a falta das refeições que as crianças faziam na escola pública. Outra, passou a organizar e entregar lanches da tarde caprichados em uma casa de repouso completamente isolada. Nathália mesmo se comoveu, comprou cobertores com um monte de gente e entregou para o Padre Júlio Lancelotti (esse, aliás, merece um capítulo à parte sobre bondade, presença e resistência).
Mesmo em meio ao caos, a bondade não para de dar as caras! São tantos exemplos que não cabem aqui. A maldade recebe bastante publicidade, mas a bondade está em todo lugar. Ao seu redor também?
3. Estamos mais conscientes
E não é sobre sairmos melhor dessa (que a gente bem sabe que não é verdade). É sobre sua mão — que você provavelmente descobriu recentemente que adora tocar seu rosto. De repente, um ato simples toma toda nossa atenção a cada nova saída de casa.
Percebemos cada impulso que temos de coçar os olhos, ajeitar a máscara, encostar na boca… Vamos para a rua com um alarme interno e estamos, de repente, mais conscientes de onde estão nossas mãos, de onde tocamos e do que não podemos fazer.
É parecido com quando paramos para fazer uma prática de meditação e conseguimos perceber, de novo e de novo, nossos padrões nos carregando: “Olha eu lá, mais uma vez pensando no que vou fazer amanhã!”… Sabe?
Gostei especialmente desses pontos trazidos por Richard Davidson porque ele conseguiu olhar com realismo para a pandemia no meio do furacão. Certamente virão outros aprendizados com o tempo, já que parece que as sequelas físicas, emocionais e econômicas ainda vão nos acompanhar (bem como a pandemia também vai).
Que possamos estar com os pés no chão, sendo ajudados a olhar para a realidade por seres realmente interessados nisso.
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