Ignorância emocional nas empresas

Ignorância emocional nas empresas

“Gostaria de dizer que a empresa são as pessoas e que quando as tratamos como pessoas, e não como os personagens que elas exercem, colocamos todos no mesmo patamar e conseguimos ouvi-las, enxergá-las. Quando consigo enxergá-las e ouvi-las, vejo que elas têm as mesmas necessidades que o diretor tem, como um plano de saúde, porém elas não têm condições de pagá-lo. Vejo que elas precisam de um lugar digno para descansar na hora do almoço, vejo que ela podem contribuir para melhoria de uma dor que a empresa tem e vejo que juntos podemos construir muito mais.”

[Relato de uma mulher, gestora de uma grande empresa, para nossa pesquisa]

Eu sempre quis contar essa história, que me impressiona até hoje. Não vivi na pele, mas ouvi com tantos detalhes que chega a parecer que passei pelo mesmo.

Era um fim de ano comum em uma grande empresa de São Paulo. Os funcionários estavam todos reunidos para aquele dia corrido antes da celebração de fim de ano. O clima era de tensão porque é nessa fase de ajustes para o próximo ano que há a possibilidade de surpresas, de mudanças nas equipes e de demissões. As boas notícias já tinham sido postas: algumas poucas promoções, sem tanto alarde, já que a empresa não estava em seu melhor momento.

A chefia direta pediu, então, quase no fim do expediente, para que os 30 funcionários se reunissem em uma sala de reunião. Tantas tarefas a serem terminadas e essas 30 pessoas ali, naquela mesa oval de uma sala quase vazia, olhando umas para as caras das outras, sem notícias do líder. Toca, então, o telefone. Um funcionário atende e a ordem é a seguinte: quem for chamado, deve comparecer à sala da chefia com seus pertences.

Por Maivisto

A cada toque do telefone, um novo nome era anunciado. Juliana, Cláudio, Maria, Rodrigo… Os amigos mais próximos se abraçavam. Sabiam o motivo ainda não dito. Cada uma das pessoas que foi chorando à sala da chefia, já foi sabendo que seria demitida.

E por que isso foi feito? Reuniram as pessoas nesta sala de maneira que fosse mais simples encontrá-las para o anúncio do desligamento. Para quem decidiu assim, foi uma ação puramente logística. Para quem passou aquela hora na sala de mesa oval, foi uma ação puramente emocional.

Não foi um decisão maldosa por si só. Demissões acontecem. Mas a maneira com a qual foi feita nos faz pensar como seguimos tentando deixar as emoções fora do trabalho, ignorando-as. Como na série Severance, em que um procedimento cirúrgico faz com que as pessoas separem a vida pessoal da profissional, esquecendo de uma quando estão na outra. Isso ainda só é possível na ficção científica.

Imagem da série Severance

Quando conto que vejo esse exemplo da sala de reunião como um típico caso de ignorância emocional nas empresas, não quero julgar a atitude isolada da chefia, certamente também atordoada por um cotidiano corrido. Não é uma questão de crueldade, é uma questão de ignorância. De ignorar que somos seres emocionais, de não saber o que acontece na hora em que sentimos, de não entender comportamentos habituais, de desacreditar que existe um outro jeito de lidar com as emoções (as nossas e as dos outros).

No ambiente corporativo ou fora dele, carregamos as emoções conosco. E é ao reconhecer a humanidade do outro, que podemos ter ações e comportamentos mais benéficos, éticos e responsáveis.

Tudo que você gostaria que seu RH soubesse

Se você trabalha ou já trabalhou em uma empresa, queremos te convidar para responder a uma pesquisa. Estamos coletando respostas que darão origem a um podcast e a um pdf sobre o tema equilíbrio emocional nas empresas.

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Toda a pesquisa leva apenas 10 minutos para ser preenchida. Seu relato é muito importante para montarmos um material que dê conta de muitas realidades.

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