Em julho de 2022, a jornalista Martina Cavalcanti nos convidou para contarmos em uma matéria da Mina Bem Estar o que achamos do clássico livro de 1936 de Dale Carnegie Como fazer amigos e influenciar pessoas. Será que as teorias de Dale Carnegie continuam valendo? Como podemos atualizar algumas delas para os dias de hoje?
Mina Bem Estar: “Interessando-nos pelos outros, conseguimos fazer mais amigos em dois meses do que em dois anos a tentar que eles se interessem por nós”, diz Carnegie. Mas e a questão de se expor, tão importante hoje em dia? O livro coloca muito o foco nas outras pessoas: “deixe elas falarem, seja um bom ouvinte, não se gabe das suas conquistas”, o que é bem oposto ao que vemos nas redes sociais, onde as pessoas estão justamente publicizando sua história e personalidade. O que você acha disso? Contar a própria história não é importante para conectar as pessoas através da identificação e da projeção hoje em dia?
Nathália Roberto: Não poderíamos concordar mais com Carnegie neste caso. Você já conversou com alguém que está realmente ali com você, realmente presente? É maravilhoso! Como diz Dom Laurence em um vídeo em que fala sobre a qualidade da atenção:
“Quando você falha em prestar atenção, o relacionamento sofre.”
E esse “prestar atenção” inclui deixar o outro falar, não tornar a encontro sobre você, se interessar pela vida daquela pessoa. Interesse vale mais que dinheiro, fama, autopromoção ou ter uma história bem contada… Não estou dizendo que contar uma boa história não seja importante, especialmente nesses tempos em que todo mundo precisa virar uma marca no Instagram para sobreviver. É cruel, cansativo, mas é o jogo de um mundo tomado pelo capitalismo. Só que talvez essas coisas não sejam excludentes. Talvez a gente precise seguir contando histórias editadas para estabelecer uma relação com as pessoas. Mas podemos dar um passo além e tornar a coisa menos sobre nós e mais sobre o outro, sobre o coletivo. Interesse genuíno é lindo, especialmente nesses tempos de atenção fragmentada, em que as redes sociais roubam nosso tempo.
Mina Bem Estar: Carnegie sugere elogiar as pessoas de forma sincera e específica antes de fazer uma crítica. Mas uma pessoa traumatizada, cansada ou com alguma questão de saúde mental – fatores mais comuns hoje do que na época do autor – pode encarar o elogio com desconfiança, principalmente quando antecede uma crítica, você não acha? Será também que esse método – elogie antes de criticar – foi usado tantas vezes que as pessoas podem não se surpreender ou ser tocadas por ele como antes? Como poderíamos atualizar essa máxima em 2022?
Isabella Ianelli: Elogiar antes de criticar é um excelente método para que a pessoa abra sua defesa e escute nossas ponderações. No entanto, esse método só vai funcionar se o elogio for de fato sincero. E para esse elogio ser sincero, preciso me disponibilizar a realmente me conectar com a pessoa que está na minha frente e humanizá-la. Ao buscar uma qualidade verdadeira no outro, me conecto com ele. E nós sabemos quando um elogio é verdadeiro, quando vem de uma real observação e de uma contemplação das nossas qualidades. Tem uma prática que gostamos muito, e usamos bastante nos projetos de educação socioemocional que conduzimos, que chama “assim como eu”. É bem simples, podemos fazê-la de maneira informal, no ônibus voltando para casa, na fila do mercado…
Podemos olhar para a pessoa desconhecida que está na nossa frente e lembrar dessas 3 palavrinhas: “assim como eu”. Assim como eu, essa pessoa já sentiu raiva; assim como eu, tem alguém que a ama incondicionalmente; assim como eu ela já falou uma besteira e se arrependeu…
Essa história de nos conectarmos com o outro começa muito antes de eu querer algo e, para criticá-lo, precisar fazer um elogio. Começa ao abrirmos nossos olhos para a complexidade de todas as pessoas que nos cercam: que não são só boas ou só más. São seres humanos, lutando contra hábitos e tendências, buscando a felicidade e tentando melhorar da maneira que conseguem.
Mina Bem Estar: Quais são os outros fatores que influenciam no “fazer amigos e influenciar pessoas” atualmente? Linguagem corporal e energia (por exemplo, quando o santo não bate)?
Isabella Ianelli: No livro O palhaço e o psicanalista, Christian Dunker e Claudio Thebas contam um pouco mais de uma pesquisa muito interessante: quando nos comunicamos, 55% dessa comunicação acontece pelo corpo, 38% pela voz e apenas 7% pelo conteúdo. Segundo Mehrabian, esse pesquisador, nossa comunicação precisa ser congruente nessas 3 dimensões para fazer sentido. Por isso, quando nos comunicamos na tentativa de aumentar nossa rede de amigos, na intenção de realmente nos conectarmos com o outro, não tem truque fácil: é preciso que estejamos, de fato, com o coração aberto!
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