No trabalho: quando um comportamento foge do normal

No trabalho: quando um comportamento foge do normal
Foto de Alex Prager

“Tenho sorte de trabalhar com algumas empresas previdentes que dizem aos seus gerentes: ‘Não esperamos que vocês resolvam esses problemas de ciências comportamentais. Não esperamos que vocês saibam gerenciar gente explosiva ou assustadora. Já é um sucesso se conseguirem gerenciar 95 por cento do pessoal com quem estão lidando. Os 5 por cento que se desviam do comportamento normal – os que intimidam, ameaçam ou amedrontam – devem nos ser comunicados.'” 

Gavin De Becker, em Virtudes do medo

Esse aqui em cima é um trecho do livro Virtudes do medo, que já indiquei por aqui e nas notícias emocionais por outros motivos. Gavin De Becker é um dos maiores especialistas em prevenção de violência do mundo. Ele estuda medo e preocupação na prática, investigando perseguidores, agressores, assassinos e vítimas.

A abordagem do De Becker é muito interessante porque ele não bebe diretamente das fontes das pesquisas científicas (como no que James Gross, Cortland Dahl e Richard Davidson estão estudando) e também não se baseia em professores contemplativos, que olham para as emoções por meio de tradições milenares. De Becker estuda o comportamento humano em sua vivência diária, de imersão na prática. E, incrivelmente, todos esses caminhos se encontram.

Voltei à leitura de seu livro dia desses e me deparei com esse trecho muito humano, dessa vez em relação às empresas. Algumas vezes as ameaças e as perseguições acontecem no ambiente de trabalho, com comportamentos que fogem do comum ou que se intensificam após uma demissão.

O trecho que abre este texto me toca por dois motivos. De Becker:

1) Não individualiza uma questão complexa
Quando uma pessoa está obcecada pela outra, achando que ela é a causa de seu fracasso, por exemplo, não é no “um a um” que isso será resolvido. Se um funcionário tem comportamentos ameaçadores e perigosos com seus colegas, não é dentro da relação que isso será resolvido. É preciso que haja, na direção da empresa, gente preparada para mediar uma questão como essa e, especialmente, dar um basta pelo coletivo naquele que amedronta ou intimida.

2) Considera que ameaças e perseguições são exceções
Aí vem a parte mais bonita: não somos naturalmente maldosos, ameaçadores, perigosos, intimidadores… Talvez a gente até possa duvidar disso, especialmente depois de ver tantas situações confusas em empresas. Mas trago um trecho de Matthieu Ricard para te convencer como me convenceu:

Pode-se falar da banalidade do mal. Mas também podemos falar da ‘banalidade do bem’, ao lembrar das mil e uma expressões de solidariedade, de atenção e de comprometimento em favor do bem do outro que pontuam nossas vidas cotidianas e exercem uma influência expressiva sobre a qualidade da vida social. Além disso, aqueles que concretizam esses incontáveis atos de ajuda mútua e de solicitude dizem geralmente que é bem ‘normal’ auxiliar seu próximo. Justifica-se evocar essa noção de banalidade também porque ela é de alguma forma silenciosa: o bem de todos os dias é anônimo; não faz as manchetes como é o caso de um atentado, de um crime hediondo, ou da libido de um político. Enfim, se existe a banalidade isso ainda é um sinal de que somos todos potencialmente capazes de fazer o bem ao nosso redor.” 

Matthieu Ricard, no livro A revolução do altruísmo
Fotografia de Vivian Maier: o bem de todos os dias é anônimo

Quando um comportamento foge do saudável e do esperado, é tarefa de todos se envolverem na proteção da pessoa que é ameaçada. E é um alívio para quem lidera ter o apoio da empresa e não precisar se preocupar com a exceção que foge do normal.

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