Nenhum luto é só tristeza, já reparou?
Um velório é um bom exemplo disso. Você chora quando chega, depois se preocupa com alguma questão burocrática, reencontra alguém que não via há tempos, chora de novo, em seguida dá risada, conta uma história profunda, depois uma boba e ainda uma engraçada…
O sentimento por aqui é de tristeza: minha vó Ina morreu aos 95 anos agora em maio. Apesar das dificuldades dos últimos anos, ela seguia muito amorosa e com um cuidado teimoso com todos que a cercavam. Teve um ano inteirinho como bisavó da Cecília, minha sobrinha. E elas se curtiram ao máximo!
A história que estou contando é feliz, sim, eu decidi, porque não é só triste. Porque a tristeza cabe em uma vida feliz — e porque a vida da minha avó foi cheia de qualidades que só nos ajudam nessa tarefa de cultivar felicidade. Roshi Joan Halifax diz assim:
“O luto é uma expressão do amor. Não é uma expressão da derrota. Amor pela pessoa que perdemos… Eu nunca dei as costas para os sentimentos de luto. Eu sinto que o que o luto pode fazer por mim e pode fazer por todos nós é nos humanizar profundamente.”
O luto me cerca de lembranças. Uma vez viajamos à noite para a casa dos meus avós no interior. Eu tinha uns 5 anos de idade, dormi em São Paulo e acordei em Vargem. No dia seguinte, lembro de alguém abrindo a porta do quarto, dando risada. Era ela: “Bom dia, você sabe onde você está?”. Muita alegria ser acordada assim! Tenho essa e muitas outras histórias de cuidado guardadas na memória.
“A profunda decepção que inevitavelmente acompanha o reconhecimento da impermanência é natural e necessária. Não devemos fugir dela, pois o amor nasce dessa tristeza, e o amor gera o insight sobre a verdadeira natureza de todas as coisas. Essas qualidades e habilidade são a fonte de alegria e felicidade perfeitas — para nós e para todas as pessoas. Essas são as qualidades que devemos tentar compartilhar e transmitir.”
Chokyi Nyima Rinpoche
Minha avó foi uma pessoa maravilhosa. Curiosamente, nosso último episódio do podcast das emoções foi sobre paciência e nele não pude deixar de citar meus avós como meu maior exemplo dessa qualidade — e há maior manifestação de amor no dia a dia que essa?
Nathalina Battazza Tacito, minha querida avó e madrinha me deu muitas coisas boas. Entre elas, uma que desejo a todos os seres: relações de profunda intimidade. Nathalina não era amável só com as visitas — um bom exemplo de inteireza que tive a sorte de presenciar ativamente. Ela tinha o seu melhor demonstrado dentro de casa.
Mesmo em um dia triste, em um enterro rápido e injusto, o cemitério está ensolarado, com um Ipê exuberante florescendo! Nesse luto tem todas as nuances de uma vida: amor, saudade, carinho, indignação, raiva, tristeza, dúvida, fé, paciência… E também tem vontade de cultivar as qualidades que minha avó manifestou de forma tão bonita em uma longa vida.
o curso das emoções
Raiva, tristeza, medo, ansiedade, inveja e muito mais: no nosso curso online, investigamos um caminho para lidarmos com mais lucidez com as emoções dolorosas e inevitáveis. Vamos?
que coisa linda esse texto! <3
Que lindeza!
Lindo e merecida homenagem
Lindo Izabella! Um texto cheio de beleza, sensibilidade, sabedoria e ilustrado com uma foto maravilhosa. Que homenagem bonita!
Parabéns !
Belíssima homenagem ! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
❤️🌹
Isabella, obrigada por compartilhar esse texto tão sensível, cru, verdadeiro, e acima de tudo, amoroso.
💛 um grande viva à vida e ensinamentos de sua avó Nathalina💛
Querida, seu texto me emocionou muito! Tive uma avó parecida com a sua, absolutamente carinhosa. Até hoje tenho sabonetes Phebo para poder sentir o cheirinho dela… No dia do enterro dela chovia a cântaros e até hoje o som da chuva me traz essa lembrança! Beijos, querida, e obrigada por partilhar!
Que lindo texto!
Muito obrigada por compartilhar seus sentimentos e nos presentear com estas lindas palavras que humanizam e transcendem nosso existir ❤️