Como você relaxa?

Como você relaxa?

“Eu acho, e eu tenho prestado atenção nisso, que eu não relaxo nunca. Ao mesmo tempo, eu sou super hedônica. A minha vida é! Tanto que eu passo do limite do hedônico. Eu adoro tomar vinho e, quando eu vi, eu tomei a garrafa inteira. Ou então eu fui almoçar e o almoço tava tão bom com as minhas amigas (e eu não quero que aquilo acabe), e eu emendei com a janta. Aí eu chego em casa, eu comi demais, eu bebi demais, eu tudo demais e no dia seguinte eu tô esgotada porque eu meti o pé na jaca. Eu não quero que esses momentos hedônicos acabem.”

Trecho do relato de uma participante no curso presencial “alinha”, em São Paulo

Logo após o primeiro encontro do nosso curso presencial que está acontecendo em São Paulo, Nathália e eu tivemos uma ideia ousada. Ao invés de começarmos com uma prática de meditação, sugerimos uma prática bem deliciosa para a semana dos participantes: relaxar hedonicamente e listar os prazeres que nos fazem relaxar. Sair para jantar num restaurante gostoso, tomar sol, encontrar os amigos no sábado à tarde, assistir a um filme do seu diretor predileto, comer um brigadeiro, dar risada com os filhos… Quem não quer uma tarefa dessas?

Maria Antonieta: uma vida de muito luxo e pouco relaxamento

No encontro seguinte, os relatos foram muito profundos. Um deles é o que abre esse texto, de uma participante que se deparou com algo muito simples e que não nos foi ensinado na escola: os limites dos prazeres hedônicos.

O professor Alan Wallace costuma dizer que um pedaço de bolo de chocolate é uma maravilha. Dois pedaços, uma delícia. Três, quatro, cinco? Bem, uma hora chega o limite dessa alegria sensorial. Reuni aqui alguns dos relatos de outras pessoas do nosso curso que chegaram a conclusões muito interessantes sobre como estamos relaxando.

“Já tava uma semana pesada, marquei uma massagem. Sempre faço drenagem, dessa vez marquei uma massagem relaxante… O próprio nome diz: relaxante. E eu fiquei dura a massagem inteira! A menina falava: ‘Relaxa essa perna, solta esse músculo…’. E eu não conseguia, eu tava travada! Saí de lá com mais dor do que eu entrei. Eu ficava toda hora: ‘Isso não vai acabar nunca? Quero voltar pra minha casa!'”

Outra participante, sobre sua experiência com a prática “Relaxar hedonicamente”

Como você relaxa?

Quando Nathália e eu propusemos essa prática, tínhamos em mente dois objetivos claros: validar o que ao nosso redor nos dá alegrias cotidianas e perceber as limitações das mesmas.

Validar os prazeres hedônicos pois, mesmo que passageiros e momentâneos, é uma alegria passear num parque ou perceber que é sexta-feira e temos uma folga dos afazeres. Podemos começar a prestar atenção nisso e nos alegrar por essas experiências, sem negá-las. Elas existem, sim, e são deliciosas.

Ao mesmo tempo, queríamos colocar luz em suas limitações porque essa noção pode nos salvar: perceber que não é mais dinheiro que vai me fazer ser mais relaxada. Nem mais status, mais poder ou mais bolo de chocolate. Todas essas coisas podem ser bacanas, gostosas e até mesmo importantes, mas são limitadas e impermanentes.

Aposentos de Maria Antonieta: um lugar delicioso de relaxamento (limitado e impermanente)

O que acontece em nossa cultura materialista é que apostamos todas as fichas nos prazeres hedônicos, sem nunca perguntarmos com curiosidade: é esse o caminho mesmo? Tem um jeito de relaxar sem depender de tantos fatores externos? Como é, como faz?

“E quem não consegue relaxar? Ah, eu acho que… Não sei se é uma coisa muito idealizada… O que seria relaxar? Eu fiz algumas coisas que eu acho que são legais… Fui ao cinema, vi um filme que eu queria ver, mas eu acho que eu nunca consegui relaxar… Eu ainda não descobri o que é relaxar.”

A primeira participante que falou, logo jogou essa bomba: afinal, o que é relaxar?

Não sabemos relaxar

Se não sabemos como relaxar, ficamos reféns de todos os fatores externos (deliciosos, limitados e impermanentes). Relaxamento não está relacionado a prazeres sensoriais. Podemos estar relaxados na raiva, no ciúme, no caos… Aliás, é com essa qualidade de relaxamento que lidamos melhor com tudo: da crise à massagem!

Aquela ideia de uma pessoa passiva e em torpor não tem a ver com o que os grandes professores dizem que é relaxar. E para flertarmos com isso, vamos precisar treinar!

Acabamos nos esquecendo de que, ao entrar em férias, levamos para areia da praia a mesma mente caótica que estava no escritório. Os artifícios que usamos são bem legais — mas não seria incrível relaxar a partir do nosso mundo interno, sem precisar de mais nada?

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